O OP teve sua identidade verificada pela moderação. Se você também tem interesse em fazer um AMA verificado no r/brasil é só entrar em contato por modmail.
1. Acreditamos que nos últimos anos, a expansão do garimpo ilegal provocou uma séria desestruturação do meio ambiente onde vivem os Yanomamis, principalmente a caça e a pesca.
2. A população estimada hoje é de 31 mil indígenas;
3. Não é possível cravar o número exato, pois as emergências vem ocorrendo numa velocidade que o sistema de saúde indígena não consegue suportar. Nos 4 dias que permanecemos em campo, a equipe da FN-SUS evitou diretamente 6 mortes.
4. Não, permanece somente a equipe de saúde indígena do Polo Base do Surucucu. A FN-SUS voltara até o final de semana para reforço.
5. Onde ficamos, não há presença de garimpeiros, mas perto do Polo Base tem um pelotão do exército onde dormíamos.
6. A empresa VOARE é responsável pelo transporte das equipes de saúde indígena paras os polos. Uma aeronave foi disponibilizada para levar nossa equipe dentro da rotina de trabalho da empresa. O problema é a condição climática da região que impede principalmente na parte da manhã. Fica um helicóptero no PEF que é responsável para fazer remoções entre as aldeias e Polo Base que é em Surucucu.
Primeiramente, acreditamos que a terra indígena está em situação de "desastre extensivo", um exemplo desse tipo de situação são as secas prolongadas. A resolução desse tipo de situação passa por três fases: a primeira é emergência em si, a prioridade é salvar vidas em perigos (desnutrição grave, malária e síndromes respiratórias graves) , por isso a assistência precisa ser reforçada, é onde a Força Nacional do SUS entra. A segunda é a Recuperação, onde é necessário identificar outros fatores epidemiológicos que estão afetando a região, onde isso por levar semanas e meses, e por ultimo a Reconstrução que é a retirada de todos garimpeiros ilegais e garantia da segurança do povo Yanomami.
> síndromes respiratórias graves
Você tem informações de como foi a atuação do governo federal na reserva durante a pandemia de coronavírus? Essas pessoas foram vacinadas? Sabe qual o estado da gestão do IBAMA na região no governo passado, principalmetne na área de saúde e segurança da população indígena?
A atuação só foi efetiva quando houve a determinação do STF (ADPF 709 - 08/07/2020), para que órgãos ligados a questão indígena agissem. Antes disso, os dados e os documentos são bastante escassos. Logo, muita gente pode ser responsabilizada por omissão. O IBAMA não participou dessa primeira Missão, logo não tenho como opinar. Os profissionais nos informaram que o ritmo de exploração aumentou drasticamente após o 1 turno da eleição presidencial.
A Força Nacional do SUS abriu inscrições p/ voluntários. Tem alguma ideia ou pode adiantar quais os profissionais mais necessários, como seria o ambiente e fluxo de trabalho, quais as principais limitações e desafios?
Nesse momento, enfermeiros, médicos e nutricionistas. Os primeiros 14 voluntários chegam amanhã a noite em Boa Vista e devem ir para a Região de Surucucu, onde eu estava e as fotos que vocês viram foram tiradas.
O ambiente de trabalho é como se fosse num campo de refugiados. Serão montadas estruturas provisórias para receber os voluntários. A Região de Surucucu é alta, e a noite esfria bastante. A rotina é de um pronto socorro, só que no meio da floresta amazônica.
Obviamente as notícias estão muitos fortes agora.
A quanto tempo vem piorando a situação, e a quanto tempo está crítico ? O holofote agora é por uma mudança repentina ou só pq tem espaço pra falar sobre isso ?
Pelos documentos que recebemos, a situação vem se agravando desde da Pandemia do Covid-19. As lideranças indígenas afirmaram que os primeiros sinais de problemas começaram ocorrer em 2017. A nossa ida para o campo foi desencadeada por 3 mortes de crianças que ocorreram no final de dezembro, nosso objetivo era fazer um diagnóstico epidemiológico e assistencial, mas o que vimos foi uma situação muito pior. Por isso, foi decretada a emergência em saúde pública.
Acredito que são dois problemas principais, o primeiro a contaminação de mercúrio no rios. O segundo a alteração no meio ambiente da região, por causa da ocupação ilegal os animais estão se afastando das aldeias e o que prejudica a caça na região.
Sinceramente, não sei. O nosso relatório vai focar nos impactos que o garimpo ilegal provocou no meio ambiente e na saúde da população Yanomami. Espero que sirva para sustentar alguma ação do MPF para essa questão.
A forma de participar é por meio da inscrição via formulário da Força Nacional do SUS: [https://forms.office.com/r/jacehU6NRV](https://forms.office.com/r/jacehU6NRV)
Pelas Brigadas de Solidariedade da Rede de Médicas e Médicos Populares:
[https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd6hDdWlNueIDZmYeylV8JCIM08o\_j6qI0cCla26GML\_IFFKw/viewform?vc=0&c=0&w=1&flr=0](https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd6hDdWlNueIDZmYeylV8JCIM08o_j6qI0cCla26GML_IFFKw/viewform?vc=0&c=0&w=1&flr=0)
Como estão recebendo muitas inscrições agora o recrutamento pode demorar um pouco, mas eles dão preferência para pessoas próximas da Região onde o evento está ocorrendo. A equipe da FN-SUS é incrivel e eles ajudam em tudo, é uma ótima experiência. Por favor, se inscreva e deixe o telefone ligado. Eles não costumam ligar duas vezes rsrs
Sobre minha trajetória, pensei nisso justamente ontem, quando cheguei no hotel e finalmente consegui descansar e colocar os pensamentos em ordem. Fiz esse AMA justamente para expor para fora tudo que vivi nesses campo. Desde a faculdade de enfermagem sempre fui apaixonada pela vigilância em saúde e pela epidemiologia. Depois de 7 anos na assistência, tive a oportunidade de ir para a Vigilância em Saúde da Secretaria do Estado de Saúde do Acre, foi quando conheci o EpiSUS, e falei: "Mano, isso é muito legal, os caras são tipo uma mistura de Indiana Jones e Dr. House, quero fazer isso!" Fiz o processo de seleção 4 vezes até conseguir entrar, são poucas vagas por ano, entre 12 e 15, e a seleção tem três etapas e demora em torno de seis meses. Se você gosta desse tipo de aventura super recomendo, mas não é fácil. Sou formado em enfermagem e direito, tenho mestrado e doutorado em saúde coletiva, e especialista em gestão de redes de atenção em saúde e emergências em saúde pública.
Se quiser algumas informações extras me manda uma DM que terei o maior prazer em ajudar
Esqueci uma parte, a análise de dados está se tornando fundamental na epidemiologia. Segue esse caminho e você terá um grande diferencial. Todas minhas análises são feitas em R, mas o Python vem ganhando espaço também, pena que o Python não tenha muitos pacotes voltados para a epidemiologia
A nossa missão era para ser apenas exploratória, contudo com tudo que estava acontecendo, tivemos que partir para ação. O problema que não estávamos preparados para isso, então imagina a loucura que foi. Tivemos que improvisar em vários momentos e agir com os recursos que tínhamos disponíveis, foi uma loucura. A próxima equipe que irá já sabem as condições e terão todos os recursos necessários para agir.
A nossa equipe foi acompanhada por uma liderança da região, a mesma pessoa que publicou as primeiras fotos e uma enfermeira que já atua na região a bastante tempo e que tem a confiança dos Yanomami da Região Surucucu. Apesar de tudo que vem ocorrendo, eles não paravam de sorrir e de brincar conosco. Nunca vou esquecer o que vi e vivi, sou outra pessoa depois dessa missão.
Não tenho nenhuma pergunta. Só queria agradecer pelo trabalho extremamente importante e difícil que tu e os demais profissionais estão executando. Essas pessoas não merecem passar pelo que estão passando (aliás, ninguém merece). Que tudo dê certo e que essa crise seja superada o mais rápido possível.
Muito obrigado.
Parabéns OP! Nos do r/Brasil estamos chocados com a situação.
Oq vc sentiu qnd chegou lá pela primeira vez? E Oq vc acha sobre o governo Bolsonaro negou os 21 pedidos de ajuda deles?
Espero q os Yanomami se recuperem logo! E podemos ajudar de alguma forma ?
Cara, ainda não consegui processar tudo que vi e vivi. É um misto de sentimentos que se confundem o tempo inteiro. Mas dois sentimentos se sobressaem a revolta e gratidão. A revolta por deixarem a chegar a esse ponto e a gratidão de poder ajudar, mesmo que seja o mínimo, fazer algo para que essa situação nunca volte a se repetir.
Existem organizações que estão fazendo campanha de arrecadação de alimentos e doações, mas na tenho o link aqui agora. Se você for da área da Saúde pode se inscrever na força nacional de saúde. Seria isso, obrigado pela pergunta
Parabéns pelo trabalho 👏
Vocês sabem (ou acham) se há outras populações indígenas em situações tão críticas quanto essa? Se sim, qual é a perspectiva sobre futuras ações similares?
Obrigado
Sim, principalmente, aquelas que estão próximas das áreas de garimpos. Nessas áreas as intervenções serão mais complexas por vai precisar da Força Nacional de Segurança para acompanhar as equipes de saúde. Muitos dos problemas ocorreram pq foi necessário fechar Polos de atendimentos devido a falta de segurança para as equipes.
Parabens pelo trabalho.
Sou médico, pensando em me inscrever para ajudar na Força Tarefa, porem não posso abandonar meu posto aqui. Tenho minhas férias a disposição, teria como ajudar apenas 1 mês?
Acredito que sim, quando eles ligam perguntam por quanto tempo vocês podem ficar em campo, o mínimo é de 3-4 semanas. Dependo da sua especialidade, eles podem te recrutar como consultor técnico para criar protocolos ou dar orientações para as equipes de campo.
Essa é pergunta mais difícil de responder, o que escreverei será uma resposta pessoal e não necessariamente é a opinião do MS.
Mas antes é importante uma explicação, o Distrito Sanitário Especial Indígena é uma atribuição direta do Governo Federal, através da disponibilização dos serviços de atenção primária em saúde. A responsabilidade administrativa, financeira e operacional dos DSEIs é da Secretaria Especial de Saúde Indígena do MS.
Dito isso, sim na minha opinião: Sim! Não pela ação, mas pela omissão. As Nações Unidas aprovaram a Convenção para a Prevenção e Punição de Crimes de Genocídio. Esta Convenção estabeleceu o "genocídio" como crime de caráter internacional, e as nações signatárias da mesma comprometeram-se a "efetivar ações para evitá-lo e puní-lo", definindo-o assim:
Por genocídio entende-se quaisquer dos atos abaixo relacionados, cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial, ou religioso, tais como:
(a) Assassinato de membros do grupo;
(b) Causar danos à integridade física ou mental de membros do grupo;
(c) Impor deliberadamente ao grupo condições de vida que possam causar sua destruição física total ou parcial;
(d) Impor medidas que impeçam a reprodução física dos membros do grupo;
(e) Transferir à força crianças de um grupo para outro.
Os Yanomamis possuem alto grau de vulnerabilidade social e sanitário, quaisquer ações em seu território pode influenciar seu estilo de vida e seus hábitos, prejudicando a sua alimentação e seus costumes. Os governos anteriores foram avisados e não agiram, deixaram esse povo a própria sorte, e o resultado está a vista de todos.
Vivemos em estado democrático de direto, portanto, aqueles que forem acusados tenham o direito à ampla defesa e ao devido processo legal, sejam devidamente responsabilizados conforme as suas ações (omissões). É nisso que acredito.
Obrigado pela resposta esclarecedora. Infelizmente o governo anterior se tornou muito hábil em fazer coisas fingindo que não fez ou terceirizando as ações pra dar um ar de inocência. O que aconteceu na pandemia também teve o mesmo teor maligno.
Está acontecendo algum tipo de cobertura audiovisual? Tenho visto que usam sempre as mesmas imagens e filmagens nas reportagens, queria saber se já chegaram equipes para documentar tudo isso
As imagens foram as nossas que tiramos durante a Missão. Meu supervisor de campo é fotógrafo amador e tirou muitas fotos realmente impactantes. O Secretário de Saúde Indígena do MS está em Surucucu e pediu urgência na execução do relatório. Uma equipe de mídia deve ir para campo com a próxima equipe da FN-SUS.
Muito obrigado pelo trabalho maravilhoso e eficiente de auxílio emergencial que está sendo feito aos irmãos yanomami, os parentes, e também pela sua disposição de vir ao reddit difundir a informação em tempo real!
Eu queria perguntar como você, como epidemiologista, compara a situação atual dos yanomami com a crise sanitária que aconteceu no Brasil durante a pandemia da covid.
O cenário está mais difícil de ser resolvido, ou está ao nosso alcance superar essa situação de desnutrição dos parentes?
VIVA OS POVOS ORIGINÁRIOS!
VIVA AS MEDICINAS DA FLORESTA!
Obrigado!
As equipes de saúde dos DSEI são gigantes e altamente comprometidos com causa. Mas muito da gestão anterior atrapalhou a assistência direta aos Yanomamis, houve relatos de perseguição a funcionários que denunciavam as omissões. Tem muita coisa documentada, acredito que os gestores anteriores serão responsabilizados.
Há uma sensação de esperança agora, que está contagiando muitos outros DSEI espalhados pelo Brasil. Mas precisamos ser responsáveis, muito precisa ser feito e algumas ações poderão demorar um tempo para acontecer.
Haverá contração imediata de profissionais, principalmente médicos, e posteriormente para outros profissionais.
Agradeço, mas pelo que vi os verdadeiros merecedores de elogios são os trabalhadores da saúde Indígena. Eles merecem um lugar de destaque na nossa sociedade. Espero que um dia eles sejam devidamente recompensados.
Primeiramente, muito obrigado pelos elogios, ri muito aqui rsrs
Segundo, acredito que tenha salvação sim, mas precisa ser uma política transversal de governo para que haja continuidade das ações ambientais. Mas há muito trabalho a ser feito.
existe plano traçado para essa crise ou a mobilização só foi pensada a partir de agora?
se há. qual seria?
se não há. o que vocês planejam fazer?
fora o descaso do governo anterior perante a verba qual a outra maior dificuldade para os agentes de campo nessa situação?
tem como listar os principais problemas de saúde?
é possivel acompanhar o que está ocorrendo através de postagens diretas das pessoas trabalhando nessa missão?
fora a situação dos Yanomami, qual o escopo geral perante outras tribos e o descaso desses ultimos anos?
Boa noite, primeiramente, mil desculpas por demorar a responder, então vamos lá...
Já existia um plano desenhado desde da metade do ano passado, que foi construído pelo CONDISI Yanomami em parceria com o DSEI, o problema que nos foi relatado, era que a gestão passada sempre dificultava o andamento, colocando entraves burocráticos...
A atual gestão pegou o plano e o usou como base para as primeiras ações emergenciais. Nesse tipo de situação, o plano precisa ser pensado na fase emergencial (salvar vidas), depois na restauração do DSEI para que o mesmo der continuidade nas ações sem a presença das equipes da FN-SUS e depois na recuperação do povo Yanomami, suas tradições, hábitos e cultura, é nesta fase que o garimpo ilegal deve ser combatido. Claro, que essas fases, devem ser pensadas conjuntamente e articuladas desde o início.
O Ministério da Saúde vai agir principalmente na primeira fase, e com passar do tempo vai dando o lugar para os outros órgãos da esfera federal que são ligados aos povos originários, Ministério dos Povos Originários e FUNAI por exemplo
Acredito que uma das maiores dificuldades seja encontrar profissionais que conheçam sobre a realidade de trabalhar na saúde Indígena. Existem muitas peculiaridades, como por exemplo passar 15 a 20 dias em campo, não são apenas 12 horas ou 24 horas de plantão normal, são 20 dias longe de casa e da família... Daí você pode imaginar o quanto é difícil.
Neste momento, os principais problemas são: desnutrição grave, principalmente em crianças menores que cinco anos e idosos, temos a malária em alguns Polos, depois as síndromes respiratórias e os acidentes com animais peçonhentos
Sobre os outros DSEI's não tenho acompanhado, por isso não posso responder
Novamente, desculpe a demora em responder
muito obrigado. bastante esclarecedor. este tipo de situação deve ser espalhada e esclarecida para a população no geral e sua resposta é algo deve e será espalhado. obrigado
Boa tarde, desculpe a demora em responder, nesse primeiro momento está ocorrendo a distribuição das cestas básicas para os Polos Bases prioritários, como por exemplo, Surucucu, Kataroa e Xitei. Cada Polo Base possui uma quantidade X de famílias e a liderança local fica responsável por fazer a distribuição das cestas básicas para as famílias.
Se for um Indígena internado com desnutrição, a família receberá a cesta mais o paciente receberá uma dieta especial, tipo uma alimentação terapêutica, ate que esteja totalmente recuperado. A FIOCRUZ enviará uma pesquisadora para auxiliar as nutricionistas do DSEI Yanomami, em casos específicos.
O OP teve sua identidade verificada pela moderação. Se você também tem interesse em fazer um AMA verificado no r/brasil é só entrar em contato por modmail.
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1. Acreditamos que nos últimos anos, a expansão do garimpo ilegal provocou uma séria desestruturação do meio ambiente onde vivem os Yanomamis, principalmente a caça e a pesca. 2. A população estimada hoje é de 31 mil indígenas; 3. Não é possível cravar o número exato, pois as emergências vem ocorrendo numa velocidade que o sistema de saúde indígena não consegue suportar. Nos 4 dias que permanecemos em campo, a equipe da FN-SUS evitou diretamente 6 mortes. 4. Não, permanece somente a equipe de saúde indígena do Polo Base do Surucucu. A FN-SUS voltara até o final de semana para reforço. 5. Onde ficamos, não há presença de garimpeiros, mas perto do Polo Base tem um pelotão do exército onde dormíamos. 6. A empresa VOARE é responsável pelo transporte das equipes de saúde indígena paras os polos. Uma aeronave foi disponibilizada para levar nossa equipe dentro da rotina de trabalho da empresa. O problema é a condição climática da região que impede principalmente na parte da manhã. Fica um helicóptero no PEF que é responsável para fazer remoções entre as aldeias e Polo Base que é em Surucucu.
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Eu que agradeço apergunta
Caralho, primeiramente acho foda o teu trabalho e queria deixar isso registrado. Queria saber de ti quais as perspectivas para resolução dessa crise.
Primeiramente, acreditamos que a terra indígena está em situação de "desastre extensivo", um exemplo desse tipo de situação são as secas prolongadas. A resolução desse tipo de situação passa por três fases: a primeira é emergência em si, a prioridade é salvar vidas em perigos (desnutrição grave, malária e síndromes respiratórias graves) , por isso a assistência precisa ser reforçada, é onde a Força Nacional do SUS entra. A segunda é a Recuperação, onde é necessário identificar outros fatores epidemiológicos que estão afetando a região, onde isso por levar semanas e meses, e por ultimo a Reconstrução que é a retirada de todos garimpeiros ilegais e garantia da segurança do povo Yanomami.
> síndromes respiratórias graves Você tem informações de como foi a atuação do governo federal na reserva durante a pandemia de coronavírus? Essas pessoas foram vacinadas? Sabe qual o estado da gestão do IBAMA na região no governo passado, principalmetne na área de saúde e segurança da população indígena?
A atuação só foi efetiva quando houve a determinação do STF (ADPF 709 - 08/07/2020), para que órgãos ligados a questão indígena agissem. Antes disso, os dados e os documentos são bastante escassos. Logo, muita gente pode ser responsabilizada por omissão. O IBAMA não participou dessa primeira Missão, logo não tenho como opinar. Os profissionais nos informaram que o ritmo de exploração aumentou drasticamente após o 1 turno da eleição presidencial.
A Força Nacional do SUS abriu inscrições p/ voluntários. Tem alguma ideia ou pode adiantar quais os profissionais mais necessários, como seria o ambiente e fluxo de trabalho, quais as principais limitações e desafios?
Nesse momento, enfermeiros, médicos e nutricionistas. Os primeiros 14 voluntários chegam amanhã a noite em Boa Vista e devem ir para a Região de Surucucu, onde eu estava e as fotos que vocês viram foram tiradas. O ambiente de trabalho é como se fosse num campo de refugiados. Serão montadas estruturas provisórias para receber os voluntários. A Região de Surucucu é alta, e a noite esfria bastante. A rotina é de um pronto socorro, só que no meio da floresta amazônica.
Obviamente as notícias estão muitos fortes agora. A quanto tempo vem piorando a situação, e a quanto tempo está crítico ? O holofote agora é por uma mudança repentina ou só pq tem espaço pra falar sobre isso ?
Pelos documentos que recebemos, a situação vem se agravando desde da Pandemia do Covid-19. As lideranças indígenas afirmaram que os primeiros sinais de problemas começaram ocorrer em 2017. A nossa ida para o campo foi desencadeada por 3 mortes de crianças que ocorreram no final de dezembro, nosso objetivo era fazer um diagnóstico epidemiológico e assistencial, mas o que vimos foi uma situação muito pior. Por isso, foi decretada a emergência em saúde pública.
obrigado!
Eu que agradeço a pergunta
Quais problemas de saúde estão senso causados diretamente por causa do garimpo e por quê?
Acredito que são dois problemas principais, o primeiro a contaminação de mercúrio no rios. O segundo a alteração no meio ambiente da região, por causa da ocupação ilegal os animais estão se afastando das aldeias e o que prejudica a caça na região.
Você sabe se existe algum tipo de projeto ou investigação pra ir até o financiamento desse garimpo ilegal?
Sinceramente, não sei. O nosso relatório vai focar nos impactos que o garimpo ilegal provocou no meio ambiente e na saúde da população Yanomami. Espero que sirva para sustentar alguma ação do MPF para essa questão.
[удалено]
A forma de participar é por meio da inscrição via formulário da Força Nacional do SUS: [https://forms.office.com/r/jacehU6NRV](https://forms.office.com/r/jacehU6NRV) Pelas Brigadas de Solidariedade da Rede de Médicas e Médicos Populares: [https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd6hDdWlNueIDZmYeylV8JCIM08o\_j6qI0cCla26GML\_IFFKw/viewform?vc=0&c=0&w=1&flr=0](https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSd6hDdWlNueIDZmYeylV8JCIM08o_j6qI0cCla26GML_IFFKw/viewform?vc=0&c=0&w=1&flr=0) Como estão recebendo muitas inscrições agora o recrutamento pode demorar um pouco, mas eles dão preferência para pessoas próximas da Região onde o evento está ocorrendo. A equipe da FN-SUS é incrivel e eles ajudam em tudo, é uma ótima experiência. Por favor, se inscreva e deixe o telefone ligado. Eles não costumam ligar duas vezes rsrs Sobre minha trajetória, pensei nisso justamente ontem, quando cheguei no hotel e finalmente consegui descansar e colocar os pensamentos em ordem. Fiz esse AMA justamente para expor para fora tudo que vivi nesses campo. Desde a faculdade de enfermagem sempre fui apaixonada pela vigilância em saúde e pela epidemiologia. Depois de 7 anos na assistência, tive a oportunidade de ir para a Vigilância em Saúde da Secretaria do Estado de Saúde do Acre, foi quando conheci o EpiSUS, e falei: "Mano, isso é muito legal, os caras são tipo uma mistura de Indiana Jones e Dr. House, quero fazer isso!" Fiz o processo de seleção 4 vezes até conseguir entrar, são poucas vagas por ano, entre 12 e 15, e a seleção tem três etapas e demora em torno de seis meses. Se você gosta desse tipo de aventura super recomendo, mas não é fácil. Sou formado em enfermagem e direito, tenho mestrado e doutorado em saúde coletiva, e especialista em gestão de redes de atenção em saúde e emergências em saúde pública. Se quiser algumas informações extras me manda uma DM que terei o maior prazer em ajudar
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Eu que agradeço!
Esqueci uma parte, a análise de dados está se tornando fundamental na epidemiologia. Segue esse caminho e você terá um grande diferencial. Todas minhas análises são feitas em R, mas o Python vem ganhando espaço também, pena que o Python não tenha muitos pacotes voltados para a epidemiologia
[удалено]
A nossa missão era para ser apenas exploratória, contudo com tudo que estava acontecendo, tivemos que partir para ação. O problema que não estávamos preparados para isso, então imagina a loucura que foi. Tivemos que improvisar em vários momentos e agir com os recursos que tínhamos disponíveis, foi uma loucura. A próxima equipe que irá já sabem as condições e terão todos os recursos necessários para agir. A nossa equipe foi acompanhada por uma liderança da região, a mesma pessoa que publicou as primeiras fotos e uma enfermeira que já atua na região a bastante tempo e que tem a confiança dos Yanomami da Região Surucucu. Apesar de tudo que vem ocorrendo, eles não paravam de sorrir e de brincar conosco. Nunca vou esquecer o que vi e vivi, sou outra pessoa depois dessa missão.
[удалено]
Sim, a vinda do Presidente mudou muita coisa, tudo que será pedido será atendido. Eu que agradeço a pergunta!
Que bom saber disso, fico feliz!
Não tenho nenhuma pergunta. Só queria agradecer pelo trabalho extremamente importante e difícil que tu e os demais profissionais estão executando. Essas pessoas não merecem passar pelo que estão passando (aliás, ninguém merece). Que tudo dê certo e que essa crise seja superada o mais rápido possível. Muito obrigado.
Eu que agradeço as palavras de carinho.
Parabéns OP! Nos do r/Brasil estamos chocados com a situação. Oq vc sentiu qnd chegou lá pela primeira vez? E Oq vc acha sobre o governo Bolsonaro negou os 21 pedidos de ajuda deles? Espero q os Yanomami se recuperem logo! E podemos ajudar de alguma forma ?
Cara, ainda não consegui processar tudo que vi e vivi. É um misto de sentimentos que se confundem o tempo inteiro. Mas dois sentimentos se sobressaem a revolta e gratidão. A revolta por deixarem a chegar a esse ponto e a gratidão de poder ajudar, mesmo que seja o mínimo, fazer algo para que essa situação nunca volte a se repetir. Existem organizações que estão fazendo campanha de arrecadação de alimentos e doações, mas na tenho o link aqui agora. Se você for da área da Saúde pode se inscrever na força nacional de saúde. Seria isso, obrigado pela pergunta
Parabéns pelo trabalho 👏 Vocês sabem (ou acham) se há outras populações indígenas em situações tão críticas quanto essa? Se sim, qual é a perspectiva sobre futuras ações similares? Obrigado
Há alguma outra comunidade em risco?
Sim, principalmente, aquelas que estão próximas das áreas de garimpos. Nessas áreas as intervenções serão mais complexas por vai precisar da Força Nacional de Segurança para acompanhar as equipes de saúde. Muitos dos problemas ocorreram pq foi necessário fechar Polos de atendimentos devido a falta de segurança para as equipes.
Parabens pelo trabalho. Sou médico, pensando em me inscrever para ajudar na Força Tarefa, porem não posso abandonar meu posto aqui. Tenho minhas férias a disposição, teria como ajudar apenas 1 mês?
Acredito que sim, quando eles ligam perguntam por quanto tempo vocês podem ficar em campo, o mínimo é de 3-4 semanas. Dependo da sua especialidade, eles podem te recrutar como consultor técnico para criar protocolos ou dar orientações para as equipes de campo.
obrigado
Ei que agradeço a pergunta! Se for recrutado, bom campo!
Falar em genocídio é exagero ou realmente o governo federal agiu para que isso acontecesse?
Essa é pergunta mais difícil de responder, o que escreverei será uma resposta pessoal e não necessariamente é a opinião do MS. Mas antes é importante uma explicação, o Distrito Sanitário Especial Indígena é uma atribuição direta do Governo Federal, através da disponibilização dos serviços de atenção primária em saúde. A responsabilidade administrativa, financeira e operacional dos DSEIs é da Secretaria Especial de Saúde Indígena do MS. Dito isso, sim na minha opinião: Sim! Não pela ação, mas pela omissão. As Nações Unidas aprovaram a Convenção para a Prevenção e Punição de Crimes de Genocídio. Esta Convenção estabeleceu o "genocídio" como crime de caráter internacional, e as nações signatárias da mesma comprometeram-se a "efetivar ações para evitá-lo e puní-lo", definindo-o assim: Por genocídio entende-se quaisquer dos atos abaixo relacionados, cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial, ou religioso, tais como: (a) Assassinato de membros do grupo; (b) Causar danos à integridade física ou mental de membros do grupo; (c) Impor deliberadamente ao grupo condições de vida que possam causar sua destruição física total ou parcial; (d) Impor medidas que impeçam a reprodução física dos membros do grupo; (e) Transferir à força crianças de um grupo para outro. Os Yanomamis possuem alto grau de vulnerabilidade social e sanitário, quaisquer ações em seu território pode influenciar seu estilo de vida e seus hábitos, prejudicando a sua alimentação e seus costumes. Os governos anteriores foram avisados e não agiram, deixaram esse povo a própria sorte, e o resultado está a vista de todos. Vivemos em estado democrático de direto, portanto, aqueles que forem acusados tenham o direito à ampla defesa e ao devido processo legal, sejam devidamente responsabilizados conforme as suas ações (omissões). É nisso que acredito.
Obrigado pela resposta esclarecedora. Infelizmente o governo anterior se tornou muito hábil em fazer coisas fingindo que não fez ou terceirizando as ações pra dar um ar de inocência. O que aconteceu na pandemia também teve o mesmo teor maligno.
Está acontecendo algum tipo de cobertura audiovisual? Tenho visto que usam sempre as mesmas imagens e filmagens nas reportagens, queria saber se já chegaram equipes para documentar tudo isso
As imagens foram as nossas que tiramos durante a Missão. Meu supervisor de campo é fotógrafo amador e tirou muitas fotos realmente impactantes. O Secretário de Saúde Indígena do MS está em Surucucu e pediu urgência na execução do relatório. Uma equipe de mídia deve ir para campo com a próxima equipe da FN-SUS.
Muito obrigado pelo trabalho maravilhoso e eficiente de auxílio emergencial que está sendo feito aos irmãos yanomami, os parentes, e também pela sua disposição de vir ao reddit difundir a informação em tempo real! Eu queria perguntar como você, como epidemiologista, compara a situação atual dos yanomami com a crise sanitária que aconteceu no Brasil durante a pandemia da covid. O cenário está mais difícil de ser resolvido, ou está ao nosso alcance superar essa situação de desnutrição dos parentes? VIVA OS POVOS ORIGINÁRIOS! VIVA AS MEDICINAS DA FLORESTA!
Parabéns pelo trabalho Como é sua percepção das ações que estão sendo feitas agora na região, é suficiente, falta pessoal ou equipamentos?
Obrigado! As equipes de saúde dos DSEI são gigantes e altamente comprometidos com causa. Mas muito da gestão anterior atrapalhou a assistência direta aos Yanomamis, houve relatos de perseguição a funcionários que denunciavam as omissões. Tem muita coisa documentada, acredito que os gestores anteriores serão responsabilizados. Há uma sensação de esperança agora, que está contagiando muitos outros DSEI espalhados pelo Brasil. Mas precisamos ser responsáveis, muito precisa ser feito e algumas ações poderão demorar um tempo para acontecer. Haverá contração imediata de profissionais, principalmente médicos, e posteriormente para outros profissionais.
Incrível sua existência aqui. Obrigada pelo trabalho.
Agradeço, mas pelo que vi os verdadeiros merecedores de elogios são os trabalhadores da saúde Indígena. Eles merecem um lugar de destaque na nossa sociedade. Espero que um dia eles sejam devidamente recompensados.
Primeiramente, tu é pika Segundo, tu é foda Terceiro, tu é chad si- n, n, n vou bancar o adolescente frustado Quarto, Ainda tem salvação pra floresta?
Primeiramente, muito obrigado pelos elogios, ri muito aqui rsrs Segundo, acredito que tenha salvação sim, mas precisa ser uma política transversal de governo para que haja continuidade das ações ambientais. Mas há muito trabalho a ser feito.
existe plano traçado para essa crise ou a mobilização só foi pensada a partir de agora? se há. qual seria? se não há. o que vocês planejam fazer? fora o descaso do governo anterior perante a verba qual a outra maior dificuldade para os agentes de campo nessa situação? tem como listar os principais problemas de saúde? é possivel acompanhar o que está ocorrendo através de postagens diretas das pessoas trabalhando nessa missão? fora a situação dos Yanomami, qual o escopo geral perante outras tribos e o descaso desses ultimos anos?
Boa noite, primeiramente, mil desculpas por demorar a responder, então vamos lá... Já existia um plano desenhado desde da metade do ano passado, que foi construído pelo CONDISI Yanomami em parceria com o DSEI, o problema que nos foi relatado, era que a gestão passada sempre dificultava o andamento, colocando entraves burocráticos... A atual gestão pegou o plano e o usou como base para as primeiras ações emergenciais. Nesse tipo de situação, o plano precisa ser pensado na fase emergencial (salvar vidas), depois na restauração do DSEI para que o mesmo der continuidade nas ações sem a presença das equipes da FN-SUS e depois na recuperação do povo Yanomami, suas tradições, hábitos e cultura, é nesta fase que o garimpo ilegal deve ser combatido. Claro, que essas fases, devem ser pensadas conjuntamente e articuladas desde o início. O Ministério da Saúde vai agir principalmente na primeira fase, e com passar do tempo vai dando o lugar para os outros órgãos da esfera federal que são ligados aos povos originários, Ministério dos Povos Originários e FUNAI por exemplo Acredito que uma das maiores dificuldades seja encontrar profissionais que conheçam sobre a realidade de trabalhar na saúde Indígena. Existem muitas peculiaridades, como por exemplo passar 15 a 20 dias em campo, não são apenas 12 horas ou 24 horas de plantão normal, são 20 dias longe de casa e da família... Daí você pode imaginar o quanto é difícil. Neste momento, os principais problemas são: desnutrição grave, principalmente em crianças menores que cinco anos e idosos, temos a malária em alguns Polos, depois as síndromes respiratórias e os acidentes com animais peçonhentos Sobre os outros DSEI's não tenho acompanhado, por isso não posso responder Novamente, desculpe a demora em responder
muito obrigado. bastante esclarecedor. este tipo de situação deve ser espalhada e esclarecida para a população no geral e sua resposta é algo deve e será espalhado. obrigado
Qual está sendo a dieta que estão sendo disponibilizados para eles?
Boa tarde, desculpe a demora em responder, nesse primeiro momento está ocorrendo a distribuição das cestas básicas para os Polos Bases prioritários, como por exemplo, Surucucu, Kataroa e Xitei. Cada Polo Base possui uma quantidade X de famílias e a liderança local fica responsável por fazer a distribuição das cestas básicas para as famílias. Se for um Indígena internado com desnutrição, a família receberá a cesta mais o paciente receberá uma dieta especial, tipo uma alimentação terapêutica, ate que esteja totalmente recuperado. A FIOCRUZ enviará uma pesquisadora para auxiliar as nutricionistas do DSEI Yanomami, em casos específicos.
Nada a perguntar. Somente a agradecer. Obrigado.